segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Eu, por mim
modernista, ufanista, iconoclasta,
que minhas palavras são lamúrias
não choradas na forma de lágrimas.
Depois disseram que sou mal amado,
atrapalhado, confuso e engraçado,
peguei minha caneta
e assinei embaixo.
domingo, 23 de agosto de 2009
Déjà vu
que existe um tom de medo na sua verdade.
E que quando eu passo, você não se interpreta
e cai no meu jogo semântico.
Seu jeito, seu perfume, sua forma, você,
é o meu mais novo culto!
A personificação mitologica de figuras que ainda desconheço...
Déjà vu - Eu já vi essa história.
quarta-feira, 24 de junho de 2009
O que ainda resta
que se ponha fogo, e que se faça em cinzas,
cinzas cinzas, cinzas pretas,
que de fagulhas e pedaços,
se percam pelo espaço,
sem deixar rastros,
nem espaço
para voltar
atrás.
sábado, 11 de abril de 2009
Tortura
Gente de dente quebrado, de pele ardida
De cara sofrida com sabor de fel.
Por onde ando só pedintes passam
E atrás deles prostitutos baratos
Que conjuram medíocres planos de conquista de poder.
E passeia por ai gente sem vergonha
Que rouba, engana, mata e cospe em cima
E que mais tarde se converte a puritano
No ato mais dissimulado e previsível dos atos.
Então, minha gente, este é um poema torto.
E como todo torto de fato, termina desengonçado.
Este torto um poema foi.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
O poema quebrado
sempre utilizo minha face mais séria e responsável.
Mergulho de ponta, n'agua ou no gelo.
e nado até chegar a algum lugar, ou lugar nenhum.
Quando sinto é porque realmente me arrepio,
e se eu choro é porque estou triste deveras.
Minha vida é cheia de epopéias,
mas eu ainda nunca fui um herói.
quarta-feira, 25 de março de 2009
Só pó
de tão velha e mal usada,
os espelhos se quebraram em sete
e meu quarto cansou-se da minha vida sem mim.
Agora, nessa ''nova overdose vital'',
ensaio e interpreto, disperdiçando minha essência por ai.
Quem toca em minha casa não me acha,
mas quem espia da janela ainda consegue me ver.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
A casa quebrada
eu abri a porta, te convidei a entrar
você hesitou, pensou, entrou tímido e arisco.
Com o tempo se acostumou com meus móveis
cresceu em minha cama, se lavou no meu tanque.
Depois disso, de tanto usar de minha casa, meus bens
você se desfez de tudo, como um nômade circense.
Agora eu, de casa quebrada, te rogo uma praga:
salte, voe, caia.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Quando se fica com raiva
continua?
Maria Azaléia
Maria andava pelas ruas da pequena vila cumprimentando a todos com um amigável e sincero sorriso. Todos a conheciam, aliás, todos se conheciam. Era uma típica vila do interior do Estado: uma rua principal com algumas casas e a praça e Igreja numa das extremidades. Mais outras duas que a cortavam com casas e galpões e, ao final, uma floresta.
Jovem ainda, na casa dos vinte, Maria morava sozinha. Seu pai, com quem vivia, morrera alguns anos atrás, vítima de um infarto fulminante. Já sua mãe nem chegou a conhecer. Esta fugiu para São Paulo assim que a teve, pois se julgava nova demais para cuidar de uma filha. Dessa forma a garota recebia assistência de todos da vila. Os mais velhos sentiam-se no dever de alertá-la sobre os perigos da vida, dos namorados. As mulheres do grupo de reza sempre arranjavam uma nova desculpa para rezar o terço em sua casa, um modo de fiscalizar se a casa estava suficientemente limpa, organizada. O quitandeiro freqüentemente mandava frutas e hortaliças para ela. Contudo não vivia de favores: herdou de seu pai significativos bens, com os quais dava pra viver muito bem, além de ter seu emprego no correio da cidade.
O cotidiano da jovem, então, era esse: trabalhava todos os dias, almoçava em casa, uma vez que aprendera a cozinhar muito bem com seu pai, e algumas vezes, ao final do expediente no correio, ela ia para a praça conversar um pouco com qualquer um que ali estivesse e, acompanhá-lo num sorvete ou saquinho de pipoca. Maria gostava da vida que levava, porém não sabia que tempos depois seu conceito de felicidade mudaria. Ela estava prestes a destilar emoções que nem sabia que existiam. Tanto boas e estonteantes, quanto más e perversas.
Numa quinta-feira chegou à pequena cidade uma bióloga, vinda de uma longínqua cidade, com o propósito de estudar a diversidade dos animais, o microclima e assuntos relacionados a um projeto que fizera em sua graduação. Como Maria morava sozinha numa grande casa, alugava um quartinho que tinha nos fundos para turistas e viajantes, do tipo da pesquisadora. Então, orientada pelo primeiro homem com quem conversou na pracinha, procurou Maria para hospedar-se em sua casa.
Logo que se conheceram, as duas mulheres já encontraram grandes afinidades: histórias de vida parecidas, músicas e gostos
A notícia da forasteira espalhou-se mais rápido que anúncio de morte na cidade. Num instante todos se encontravam na praça e simulavam conversas cotidianas, esperando a nova moça sair um pouco da casa de Maria, para, como moradores nada curiosos que nada queriam, embebedá-la de perguntas.
De repente todos param de conversar e olham para o portão da pensão: a bióloga estava saindo com Maria. Rapidamente as crianças, logicamente sem combinação alguma com os adultos, jogam a bola com que brincavam um pouco mais distante, perto das moças, e uma mãe, junto com seu marido, amigo, e amigo do amigo, vai buscar a bola para o filho, aproveitando para se lembrar de dar um recado para Maria que o padeiro havia deixado no dia anterior e, também, para dar um simpático ‘‘oi’’ para a bióloga e forçar um assunto.
Depois de conversarem alguns minutos, dispersaram-se momentaneamente, e, então, se aglomeraram novamente e socializaram toda conversa para os demais curiosos que ainda passeavam sem propósitos pela praça: a mulher era solteira, muito bonita de perto, olhos castanhos escuros, chamava-se Joana, ficaria na vila por tempo indeterminado em nome da faculdade em que trabalhava fazendo pesquisas e era muito simpática. Maria saiu andando com a moça, conversando pelas estreitas ruas até chegar em casa novamente.
Já quase na hora de dormir, Maria e Joana sentaram-se na varanda para admirarem a lua. Falaram sobre assuntos fúteis, dramáticos, inteligentes, até começarem a reduzir o número de palavras progressivamente, e o assunto acabar. Joana, então, olhou para Maria, que retribuiu o olhar com um sorriso. Começaram a se aproximar, sem saber o porquê, mas se aproximavam. Um súbito desejo mútuo de tocar a outra desceu sobre as duas. E cada vez ficavam mais perto, e mais perto, até que o fato culminou em um estranho, porém desejado beijo.
Sem mais palavras, apenas com expressões e gestos corporais, levantaram, e cada uma dirigiu-se ao seu quarto, com um furacão de pensamentos e questionamentos em suas mentes. Nenhuma das duas conseguiu dormir de imediato: não sabiam o que acabara de acontecer, não entendiam o porquê, e se recriminavam pelo fato de terem gostado e apenas pensarem em querer mais. Na manhã seguinte, quando a pesquisadora acordou, Maria já havia feito o café e ido trabalhar. Tomou, portanto, seu café e foi ao trabalho também.
Se encontraram no almoço e, depois de uma breve saudação ao chegar em casa, Joana beijou Maria, que não demonstrou resistência. Almoçaram sem tocar no assunto. Falaram novamente de todos os assuntos possíveis, mas não tocaram nos últimos acontecimentos. Quando saíram para trabalhar novamente, uma abraçou e acariciou a outra num grande gesto de ternura. Sorriram e se separaram.
Após uma semana de silêncio por ambas as partes, Joana decidiu conversar com Maria sobre o que estava acontecendo entre as duas. Maria tentou fugir da conversa, mas não tinha o dom suficiente da comunicação para tal. Logo teve de expressar o que sentia, por mais estranho que lhe parecesse, por mais anormal que isso significasse para ela. Joana apenas escutava as palavras carregadas de medo e insegurança que saiam da boca da jovem. Começaram a chorar. Trocaram confortáveis e amorosas frases num forte abraço. Prometeram ficar unidas por todo o sempre, e todas as coisas mais que casais apaixonados, no ápice de momentos sentimentais, prometem.
No dia seguinte o primeiro ato de Maria foi procurar o Padre Altino. Ele, além de celebrar missas e desempenhar todas as funções de padre, era o conselheiro e sábio da cidade. Maria esperava apoio dele. Ela estava feliz como nunca. Como o Padre seria contra sua felicidade? Principalmente o Padre Altino, que sempre lhe apoiou em suas decisões. Passou-se trinta minutos que a jovem entrou na igreja, e saiu em prantos, tampando o rosto com vergonha do mundo, com medo de raios que, porventura, poderiam vir a cair sobre a pecadora mais suja do reino de Deus e assim findar com sua perversa vida.
Em casa, por mais que Joana tentasse consolar Maria, esta permanecia chorando incessantemente, repetindo o que o Padre havia falado. Não se conformava com aquilo que ouviu. Não entendia o porquê. Pensou
Ao sair na rua, Maria agora tinha a impressão de que todos olhavam para ela de modo diferente. Somente o Padre Altino sabia de verdade o que se passava entre ela e Joana, porém ela achava que todos haviam mudado. Não conseguia mais conversar normalmente com as pessoas na pracinha. Ficava com pensamentos obsessivos sobre o que o Padre Altino havia falado, sobre o que ela estava vivendo e que ninguém mais ali na vila poderia saber. Tinha medo de tudo, não saía mais junto de Joana, apenas conversava com ela em casa.
Joana já não agüentava mais a situação. Ficava mais triste cada vez que via sua companheira sofrer mais e mais. E sofria também! Já não usufruía do mesmo amor que Maria havia prometido, já não beijava mais a inocência e pureza que Maria tinha. Ela beijava o medo, a insegurança. O amor havia secado.
Maria acordou numa sexta-feira e foi fazer o café. Entrou no quarto de Joana para acordá-la e não a encontrou. Suas roupas e todos os pertences haviam desaparecido do quarto. Tinha apenas um papel em cima da cômoda, escrito: ‘‘Foi eterno enquanto durou’’, seguido de um desenho do rosto e do sorriso de Maria, que Joana havia feito.
Maria não conseguiu chorar a princípio. Tomada por um sentimento tão intenso ela não teve forças para mais nada, a não ser deitar na cama, até então ocupada por Joana, e começar lentamente a soltar lágrimas que corriam lentamente pelo seu rosto. Depois de algum tempo dormiu. Acordou horas depois, com uma atitude em mente a ser tomada.
Juntou suas roupas, todo dinheiro que tinha em casa e mais alguns objetos pessoais. Colocou tudo em uma antiga mala que seu pai tinha. Rezou um terço para seu santo preferido pedindo sorte e boa viagem. Fechou toda a casa cuidadosamente e saiu rumo a São Paulo, em busca de sua mãe. Ela precisava de algo novo. Cansou-se daquela pequena vila monótona e conservadora. Buscava novos preceitos morais para aprender e vivenciar. Sempre foi curiosa também para encontrar sua mãe. Dessa forma, saiu com apenas um papel com o nome dela e alguns documentos que o seu pai havia guardado. Maria percebeu que não era a pecadora que o Padre havia dito, que Deus não a odiava, e ela merecia ser feliz.
Carlos Augusto Alves de Sousa Júnior
Professora orientadora: Silvana Marchesani
Colégio de Aplicação – COLUNI / UFV
Universidade Federal de Viçosa (UFV)